O enterro do ?não consigo? - Jornal Cruzeiro do Vale

O enterro do ?não consigo?

10/07/2012 08:29

Todos os alunos estavam trabalhando na tarefa de fazer uma lista de ?não consigos?. A professora foi percorrendo a sala e lendo alguns: ?Não consigo fazer divisões longas com mais de três números?. ?Não consigo estudar números?. ?Não consigo estudar muito tempo?. ?Não consigo fazer dez flexões?.

Quando todos os alunos acabaram, a professora colocou todos os ?não consigos? numa caixa, incluindo os seus, tampou-a e saiu com ela, seguida pelos alunos, para o pátio do colégio. Escolheu um canto afastado e ali começara a cavar. Iam enterrar seus ?não consigo?! Quando a escavação terminou, a caixa de ?não consigo? foi depositada no fundo e rapidamente coberta com terra. Todas as crianças de dez e onze anos permaneceram de p&e acute;, em torno da sepultura recém escavada. A professora, então, falou:

? Estamos hoje aqui reunidos para honrar a memória do ?não consigo?. Enquanto esteve conosco, tocou a nossa vida e de muitas outras pessoas. Seu nome infelizmente foi mencionado em todos os lugares e agora providenciamos um local para o seu descanso final. Que ?não consigo? possa descansar em paz e que todos os presentes possam retomar suas vidas e ir em frente na sua ausência.

Os alunos jamais esqueceram a lição. A atividade era simbólica: uma metáfora da vida. O ?não consigo? estava enterrado para sempre. Logo após, a professora encaminhou os alunos de volta à sala e promoveu uma festa. Depois, como parte do ensinamento, pegou uma cartolina e escreveu as palavras ?não consigo? no topo, ?descanse em paz? no centro, e a data embaixo.

Esta cartolina ficou exposta na sala de aula durante o resto do ano. Nas raras ocasiões em que um aluno esquecia e dizia ?não consigo?, a professora simplesmente apontava o cartaz ?descanse em paz?. O aluno então se lembrava que ?não consigo? estava morto e reformulava a frase.

Marcio Kühne

Edição 1404

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