O regime de cheia e de seca determina uma mudança constante na vida de agricultores na Amazônia. Mesmo com os diferentes padrões de clima, o ribeirinho consegue plantar e criar animais.
O ciclo é periódico. Por seis meses, a água sobe e cobre florestas e praias. Nos outros seis meses, ela desce e deixa à mostra um solo rico, fertilizado por nutrientes trazidos pelo rio. A várzea amazônica tem área de cerca de 300 mil km², quase 6% do tamanho total da região que se espalha por rios da Bacia Amazônica.
Entre a cheia e a seca, o nível dos rios pode variar até 15 metros. "O que alimenta o ciclo das águas aqui na região é a água que evapora dos oceanos. Essa umidade que vem do oceano atravessa o continente e encontra uma barreira intransponível, que é a Cordilheira dos Andes, com mais de 6 km de altura, que não permite que essa massa de ar ultrapasse a cordilheira. A água acaba precipitando sobre a cordilheira, olhando para a Amazônia. Isso é o que provoca cheias na região todos os anos?, explica Marco Antônio Oliveira, superintendente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), que estuda a Bacia Amazônica há mais de 20 anos.
Quando as chuvas param no mês de julho, a água dos rios começa a baixar. ?Parte dessa água evapora e volta para a atmosfera e a outra parte infiltra no solo. Essa água que infiltra no solo é a que vai sustentar rios quando não chove na região?, diz o geólogo.
Na várzea, não há títulos definitivos de posse da terra. Tudo pertence à União. O ribeirinho desenvolveu um jeito próprio de dividir a área. Na terra que passa metade do ano debaixo da água, não existem cercas ou portões.
Ocupar determinado lugar aqui significa delimitar um espaço pela força do trabalho. Foi assim com a agricultora Maria Amélia Moreira e o seu José, que têm um roçado de mandioca e banana. ?Cheguei pelo intermédio do meu irmão, que chamou a gente para cá, porque na cidade a gente não tinha condições de viver. Ele já tinha um terreno e cedeu para gente um pedaço de terra?, diz a agricultora.
Eles estão reconstruindo o roçado levado pela última grande cheia. O ciclo das águas deixa o homem dependente das mudanças que a natureza impõe. Quando as águas invadem a floresta, formam caminhos. São atalhos na mata inundada que encurtam o tempo das viagens, como se fossem pequenas ruas das cidades. Na época da seca, esses atalhos simplesmente desaparecem.
fonte g1
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).