15/03/2011
Ouço e vejo (tevê e fotos na internet) a destruição de Christchurch. A reconstrução vai exigir no mínimo 11,2 bilhões de dólares informam as autoridades de lá (o Japão vai precisar inicialmente de U$ 100 bilhões, numa área bem mais ampla do que Christchurch e para comparar, Santa Catarina toda em 2008, estimou-se em US$600 milhões os prejuízos públicos e privados). A tragédia já custou 168 vidas em Christchurch, oficialmente (pode chegar a 220). Dos 400 mil habitantes, 70 mil já foram embora da cidade desde o dia 21 de Fevereiro. E o abalo deste episódio na economia e desenvolvimento é proporcionalmente tão grande, que segundo o governo e institutos especializados, ele vai afetar 1,5% de todo o PIB neozelandês.
Na minha lembrança, entretanto, Christchurch ainda é bem diferente. Na segunda semana de Novembro de 2010 cheguei a Christchurch. Vinha do Japão (uma área histórica, comercial e industrialmente mais importante que fica ao sul como Tóquio, Yokohama, Fujii,Shizuoka, Nagoya, Kyoto, Nara e Osaka, além de bem menos afetada pelo espantoso terremoto de 8.9 ou 9 de magnitude e pela devastadora tsunami de 10m de altura da semana passada).
Vinha de lá depois de passar por vários países asiáticos e Austrália (onde também meses depois, tempestades tropicais complicaram a paradisíaca costa nordeste). Queria conhecer o sul da Nova Zelândia, um local ímpar no mundo, cenário exuberante dos filmes ?O Senhor dos Aneis?. Fui atrás de montanhas, praias, geleiras, imensos lagos, desfiladeiros, vales produtivos, planícies, desertos, florestas temperadas e regiões áridas, as quais se apresentam em pouca distância umas das outras. Andei quase três mil quilômetros de carro por estes contrastes, dirigindo, mais uma vez, do lado direito. Surpreendente. Inesquecível, inclusive no único dia inteiro sob chuvas intensas. Diferente.
Chego a Christchurch à meia-noite no aeroporto sob obras programadas até 2014, cronograma à mostra do público (visitante e local), prestando contas dos recursos, avanços e atrasos. Tudo muito tranquilo, para a principal cidade do sul da Nova Zelândia, e portuária. No dia seguinte, sob sol e feriado, a mesma calmaria. Infra-estrutura turística de dar inveja. Todos os serviços e assistência funcionando para a cidade e o turista. Cidade limpa, com avenidas largas, plana, poucos prédios altos, espalhada por uma grande área e com ares de planejamento urbano.
Ela tem quase a idade de Blumenau. Foi fundada no dia 27 março de 1848 (aqui é 02.09.1850). Não há registros de enchentes, mas em compensação ela está sob uma placa tectônica e assim tem, então, abalos sísmicos. O último, antes de eu chegar lá, foi em Setembro e até de maior intensidade do que deste Fevereiro que praticamente a destruiu. Todavia, naquele Novembro perguntei pelo terremoto de Setembro. Foi profundo. A energia dissipou a sua força destruidora até ele chegar à superfície. Era sempre assim.Não haviam marcas. Nem vítimas. Poucos falavam.
Na foto, estou no Centro de Christchurch, a qual tinha um bondinho turístico e histórico sob trilhos. Pagava-se. Dele se conhecida a cidade, a sua história e o orgulho daquela gente com intensa diversidade e imigração. Era contada pelo motorneiro, à caráter inglês. Desta área central onde estou , 70% veio abaixo, algo sem similar anterior. Ao findar o giro que fiz pelo sul neozelandês foi por Christchurch que saí. Impressionado. Até a Catedral de pedras, um marco, soube e vejo agora pela internet, veio abaixo. Hospedei-me ao lado. Revendo as fotos, a sensação é de perda para mim. Imagino para os de lá. Ainda bem que ficaram as lembranças. Só boas. As ruins, só no noticiário e vistas daqui. Então imagino Tóquio, Gold Coast e Christchurch sem os problemas.
edição 1274
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