Por Thiago Moraes
Para os brasileiros, as vantagens de terem sediado a Copa do Mundo tem uma mistura de percepções para o mestre em Sociologia Política Sérgio Saturnino Januário. A avaliação do Coordenador Executivo do Instituto de Pesquisas Sociais da Univali sobre o impacto da realização do mundial no país-sede brasileiro tem diversas frentes de análise. Confira a entrevista a seguir.
Cruzeiro do Vale: Haverá um legado, uma herança deixada pela Copa do Mundo à sociedade brasileira?
Sérgio Saturnino Januário: A necessidade de boa parte da população perceber as carências de infraestrutura do país tem sido um dos maiores legados desta copa ocorrida no Brasil. Haverá uma maior conscientização e reivindicação, desde a época das manifestações de junho de 2013, de melhorias que envolvem o cotidiano das pessoas em sociedade, como as condições em aeroportos, nas estradas brasileiras e também no sistema ferroviário, entre outras necessidades, como o desenvolvimento em educação e saúde. Com relação ao esporte em si, acredito que deveria ser dado um foco maior não somente em relação ao futebol praticado durante esse mundial, mas com relação à infraestrutura que precisa ser dada para a prática esportiva como um todo, não só o futebol, mas em várias modalidades de nosso esporte.
CV: A derrota do Brasil dentro de campo pode causar um desânimo generalizado na continuidade das cobranças por melhorias sociais?
Sérgio Saturnino Januário: Poderá sim. Podemos esperar de um pós-copa um povo brasileiro com moral baixo em termos de futebol e desconfiado quanto aos porquês da conquista tão sonhada não ter sido atingida. O desfecho dentro de campo com a Seleção Brasileira terminando na quarta colocação depois de dois resultados negativos (Para a Alemanha por 7 a 1 e para Holanda por 3 a 0) com tamanha repercussão pode amenizar as exigências de cobranças a respeito do seguimento das obras de infraestrutura feitas até aqui e da utilização dos 12 estádios construídos, assim como da fiscalização das verbas públicas utilizadas para a realização do mundial. Todos estes fatos serão utilizados em campanhas políticas e serão elementos políticos neste ano eleitoral.
CV: Havia uma expectativa de que a Copa seria um fracasso fora dos gramados. Houve um pessimismo excessivo?
Sérgio Saturnino Januário: Acredito que as mazelas sociais continuarão. Basta chegar o próximo feriadão que será constatado os antigos problemas em atrasos de voos em aeroportos e a guerra no trânsito brasileiro, com vários mortes nas estradas. O bom é que agora temos um elemento de comparação dos mais de 30 dias de realização do mundial com o futuro, já a partir desta semana.
CV: E os protestos? Por que não tiveram a mesma proporção de junho de 2013?
Sérgio Saturnino Januário: Acredito que foi devido aos atrativos que uma Copa do Mundo traz embutida, desde o desempenho esportivo dentro de campo até opções de curtir o mundial fora dos gramados.
CV: A economia brasileira obteve êxito com a Copa?
Sérgio Saturnino Januário: A Fifa, em especial, que foi isenta de cargas tributárias em todos os eventos que propôs a fazer nestes mais de 30 dias, obteve os principais ganhos. O comércio em si deve ter tido um aumento nas vendas, mas os indicadores econômicos não indicam um grande estouro no cenário comercial e financeiro.
![]() |
|
Fotos: Getty Images - Despedida foi no Maracanã |
Edição 1604
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).