Não faz muito tempo que o basquete fazia parte do dia a dia de dois gasparenses, Mateus Haverroth e Adílio da Silva. Fãs do esporte desde a infância, os ex-estudantes da Escola Dolores Krauss despontaram na modalidade ainda garotos, no ensino fundamental, em uma quadra de cimento improvisada. ?Havia rachaduras no espaço onde jogávamos. Não era fácil jogar, mas foi ali que nossas mãos ganharam a habilidade necessária para o basquete?, relembra o pivô Mateus, 21 anos, de 2,06 metros, morador do bairro Figueira.
Mostrando domínio com as mãos tanto para manejar a bola pesada de basquete quanto no desempenho em sala de aula, a dupla fez parte de uma geração áurea da escola, onde perder não era um verbo conjugado pelos atletas. ?Durante anos, entre 2008 e 2011, vencíamos todas as disputas internas, em Gaspar, e fazíamos frente com escolas fortes em basquete de nossa região, como a Escola Barão do Rio Branco, de Blumenau?, lembra o ala Adílio, 22 anos, de 1,92 metros.
Mateus chamou a atenção pelo alto índice de pontos que fazia no garrafão durante os jogos, e foi selecionado pela Escola Barão, onde atuou e estudou no Ensino Médio, por meio de uma bolsa de estudos integral. ?Cheguei às categorias de base da seleção catarinense e brasileira. As contusões atrapalharam muito. Rompi o ligamento do joelho esquerdo e minha carreira foi abreviada. Pontuava muito nas partidas. Batia com a mão no aro da cesta e afundava a bola entre as redes, e partia para a próxima jogada?, conta o futuro engenheiro químico, estudante da Furb, de Blumenau.
Basta tocar na bola de basquete para o sorriso de Adílio vir à tona. Destaque do time da escola na época ao lado de Mateus, Adílio fazia questão de atuar com o número da camisa de sua referência no basquete, o 23, de Micheal Jordan. Com habilidade para driblar os marcadores e jogo de cintura na hora de fintar o adversário para disparar o arremesso, Adílio recorda do passado com muito carinho, tempos de aprendizado, de amadurecimento como atleta e como homem. ?Tinha uma afinidade e um entrosamento com o Mateus nas partidas que fazia do time da escola uma equipe que pontuava muito durante os jogos. Dificilmente tomávamos contra-ataques nas jogadas que bolávamos?, recorda.
Um toco no meio do caminho
Os anos se passaram e Mateus e Adílio precisavam escolher um caminho a seguir. Devido a contusões de Mateus e à falta de chances para Adílio se firmar em um grande polo de basquete, o esporte foi, pouco a pouco, virando uma atividade secundária, perdendo espaço para as atividades escolar e profissional escolhidas. Para chegar ao patamar de cidadania que têm hoje, Mateus e Adílio cresceram sob as instruções do hoje diretor da escola Dolores Krauss, Milton Cassiano, suporte dentro e fora das quadras. ?As histórias permanecem para sempre, servem de bússola para nós. O esporte é assim mesmo, as oportunidades são raras, quando aparecem. A vida passa, mas a vontade de ser um profissional de referência em nosso ramo de atuação permanece. Estamos combinando com os colegas da época de voltar a jogar basquete por pura paixão?, avisa Adílio, ao lado de Mateus, na quadra da Escola Dolores Krauss, onde deram os primeiros passos. Para Mateus Haverroth, para haver um basquete competitivo e referencial, seria preciso investir em mais polos esportivos com quadras para a prática do esporte. ?Conheço muita gente que fica sem fazer nada à noite. O basquete em Gaspar precisa ressuscitar?, deseja. ?A dinâmica do jogo é fascinante e a intensidade não dá espaço para monotonia?, complementa Adílio.
De três!
Vibração com os pontos. Aplausos, orientações e cobranças. Torcida agitada. Assim era a atmosfera nos jogos da equipe Gasparense em competições que disputava entre o início dos anos 80 até o final da década de 1990, nos ginásios do colégio Frei Godofredo e da Sociedade Gasparense. ?Chegamos a ficar em terceiro lugar nos Jogos Abertos. Fazíamos um trabalho de base exemplar. Foi uma época inesquecível?, afirma o diretor de Esportes da Fundação Municipal de Esportes de Gaspar, FME, Marcelo Fontes Schramm.
Ao lado de amigos que praticavam o basquete em Gaspar, como Renato Zimmermann, João Carlos Mansur, Raul Ávila e Jan Paulo Weickert, o quinteto trabalhou durante quase duas décadas na formação de atletas da modalidade em Gaspar. No entanto, na hora de formar uma equipe adulta, profissional, esbarrava na falta de investidores e na concorrência de outras cidades mais fortes economicamente.
Nas fotos e nos troféus, que estarão expostos no Memorial do Esporte Gasparense, uma galeria com materiais do esporte local, é possível notar o fruto do trabalho desenvolvido. Celeiro de atletas na época, Gaspar formou e garimpou talentos que faziam frente a inúmeras equipes do Estado. ?Os times tremiam quando precisavam vir a Gaspar para atuar contra nós. As enterradas e as cestas de três pontos causavam um verdadeiro frisson nas arquibancadas lotadas do ginásio?, conta Marcelo.
Jovens vidrados na bola laranja
Entre os jovens que praticavam o esporte em Gaspar estava o hoje vereador Marcelo Brick. Iniciando os treinamentos na Escola Norma Monica Sabel, Marcelo chegou a disputar os joguinhos escolares de Gaspar e os Jogos Abertos de Santa Catarina, além de torneios estaduais. ?Foi uma época que marcou muito na vida de todos os atletas. Jogávamos pelo simples fato da competição, sem nenhum tipo de remuneração. Tínhamos um excelente time, todos nascidos em Gaspar. Viajávamos todo o Estado disputando os joguinhos escolares e o estadual. Realmente uma época de ouro para ao basquete gasparense?, destaca Marcelo.
Para Marcelo, é importante, como em qualquer outro esporte, resgatar o basquete através da base. ?Tínhamos várias turmas de crianças treinando nas escolas do município, e os alunos que tinham notas boas e se destacavam no esporte, eram convidados a fazer um teste com o time da cidade que treinava na Sociedade Gasparense?, lembra.
Histórias registradas
Parte da rica e volumosa história do basquete de Gaspar está registrada no livro ?O Basquetebol em Santa Catarina, 95 anos de história?, do autor Luiz Augusto Tripadalli Archer. Na obra, que faz parte do acervo da FME, estão registradas inúmeras participações e resultados expressivos do basquete da Sociedade Gasparense.
Gaspar vive momento de baixa no basquete
Renato Zimmermann, atual diretor-presidente da Fundação Municipal de Esportes de Gaspar, FME, e um dos desbravadores da modalidade em Gaspar, relembra que o trabalho realizado no basquete alcançou seu ponto alto na década de 90. ?Praticava-se basquete em todas as escolas de Gaspar, e o ginásio lotava nos jogos do Gasparense. Durante muitos anos Gaspar esteve presente no quadrangular final dos Joguinhos Abertos de Santa Catarina. Gaspar foi umas das maiores forças do basquete estadual por muitos anos?, ressalta Renato.
Atualmente, Gaspar vive uma fase de baixa na modalidade. ?Nas escolas praticamente não existe a prática do basquete?, reconhece Renato. Segundo o dirigente da FME, esta fase se deve principalmente à falta de interesse e conhecimento dos professores a respeito do basquete. ?Em outros tempos, nós tínhamos professores que gostavam de basquete e tínhamos trabalho de basquete em várias escolas com monitores, o que despertava o interesse dos alunos?, comenta.
De acordo com Renato, uma tabela hidráulica de basquete foi recuperada pela FME, porém não há ginásio apto para recebê-la. ?São poucos os espaços para a prática da modalidade em Gaspar. No início da minha gestão, com interesse de alguns ex-atletas, tentamos recomeçar o trabalho, mas por diversos motivos isto ainda não foi possível. Entre eles estão o local para treinamentos e treinadores habilitados e o desinteresse de adolescentes, principalmente quando se trata de treinamentos, pois o basquete depende totalmente de treinos intensos. É uma pena?, lamenta.
Edição 1615
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